OS GREGOS E A POLIS
«(...) Na antiga Grécia o recurso a uma imagem espacial para exprimir a consciência que um grupo humano - toma de si próprio, o sentido da sua existência como uma unidade política, não tem um mero valor comparativo. Reflecte o aparecimento de um espaço social inteiramente novo. Com efeito, as construções urbanas já não se agrupam, como antigamente, em torno de um palácio real, cercado de muralhas. A cidade passa agora a centrar-se na agora (praça pública), espaço comum, sede da Hestia5 Koine, espaço público onde são debatidas as questões de interesse geral. É a própria cidade que se rodeia de muros, protegendo e delimitando na sua totalidade o grupo humano que a constitui. Onde se erguia a cidade real - residência privada, privilegiada - passou a edificar-se templos, abertos a um culto público. Nas ruínas do palácio, na Acrópole que a partir de agora consagra aos seus deuses, é ainda ela própria que a comunidade projecta no plano do sagrado, tal como ela se assume, no plano profano, como uma extensão da agora. Este quadro urbano define efectivamente um quadro mental, revela um horizonte espiritual. A partir do momento em que se centra na praça pública, a cidade é já, no sentido pleno do termo, uma polis.» JEAN-PIERRE VERNANT, Origens do Pensamento Grego